quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O matuto chega no céu e ganha prorrogação


Tudo era festa e alegria
Na roça, na malhada,
Tangendo o gado
no decorrer do dia.
Mas o caboclo não sabia
Que no encosto da noite
Muita coisa acontecia.

Deu redemoinho
e o céu anuviou
O vento soprou zangado
E a chuva não se chegou
Em menos de duas horas
Subiu no céu e voltou.

Bateu na porta de Cristo
E São Pedro apareceu
Com cara de incomodado
Que o visitante tremeu.
Rangeu os dentes e perguntou:
- Que bicho que te mordeu?

- Me desculpe meu santinho
Mas foi daquelas coisinhas
Que assusta um passarinho
Mas não mata uma florzinha
O que assustou o matuto 
foi uma leve dorzinha.

- Imagine meu santinho
Que estava distraído
Quando me veio um gemido
Lá do fundo do meu peito
Não sobrou terra no chão
E só me veio um zunido

O olho arregalou
O tempo escureceu
A cabeça deu um giro
E a fraqueza me deu
Gritei: - valha-me Deus
E o meu pai me valeu.

- Por isso estou aqui
Ainda lhe consultando
Se a minha visita é breve
Vá logo me avisando
Porque deixei lá embaixo
Um monte de gente chorando.

São Pedro tirou os óculos
Baixou a vista e releu
Virou a página do livro
E logo esclareceu:
- Está aqui confirmado
O Homem assinou
O seu prazo foi prorrogado

- Mas abra do olha seu cabra
Que não há definição
Vá devagar com o andor
Porque na hora de rubricar
Não disse o Nosso Senhor
A hora do prazo acabar

- Reconheço a atenção
Meu santinho protetor
Pode ficar tranqüilo
Que sou um bom seguidor
Agradeço a distinção
Que me deu meu salvador

- Volto para o meu povo
Cheio de animação
Refazendo a minha vida
Com a mão no coração
Lembrando que todo dia
É dia de oração.

E fico aqui matutando
Como a vida é
Numa hora se tem tudo
Noutra se dá marcha ré
O importante, portanto,
E viver bem cada dia
E sempre ter muita fé.

Valorizar cada gesto
Aproveitar toda emoção
Dividir com a família
Amor e consideração
Vencer as dificuldades
Da alma e do coração.
 Por João de Lila*
*Poeta, matuto, Pernambucano.

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