quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

O desabrochar da flor de cactos

Para um bom número de brasileiros que vive no Sul e Sudeste do País, qualquer menção ao sertão nordestino ainda evoca tradicionais imagens de destituição, miséria, abandono e atraso. Invariavelmente, essas amargas lembranças servem apenas para reforçar a opinião de que uma realidade tão implacável e inóspita jamais se renderá a qualquer política pública ou iniciativa privada que vise o desenvolvimento da região. Assim, dentro desse estereótipo nacional, nada é capaz de prosperar perante o sol escaldante, solo seco e os desolados jardins de cactos que dominam a paisagem da caatinga.

Essa visão fatalista ignora, porém, que o sertão nordestino, há séculos, serve de palco para o desenrolar de um grande épico de sobrevivência, construído dia a dia pela ingenuidade natural e obstinação de todas as formas de vida que lá habitam. Formada por uma vegetação altamente adaptada à falta crônica de água, ornada por uma flora típica e própria, a caatinga há muito deixou de ser considerada, pelo menos em termos botânicos, uma simples degeneração da mata atlântica. Na realidade, trata-se de um dos biomas mais especializados do mundo, parte integral e única do extraordinário patrimônio natural brasileiro. Todavia, diferentemente da floresta amazônica, do pantanal e até mesmo do cerrado, a caatinga ainda não encontrou seu espaço próprio na consciência nacional, que vira e mexe prefere rejeitá-la, como se a mesma fosse uma filha a quem se nega paternidade, nome e pensão.

Fonte: http://www.revistabrasileiros.com.br

Nenhum comentário:

Postar um comentário