quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

INVERNADA NO SERTÃO

Quando o Inverno Chega


As campinas do sertão
Matas verdes e regatos
Quando o inverno chega
Exibem os seus ornatos
Um florir vivo e claro
De beleza nos formatos.

O sertanejo se alegra
Ao ver a chuva no chão
Entoa prece ao bom Deus
Em ato de louvação
O pingar d’água nas telhas
Vira a mais bela canção.

Os pássaros também curtem
E se espojam na frieza
Quando o dia amanhece
A névoa na redondeza
Cobre tudo sutilmente
Simples, singular lindeza.

O menino sai correndo
Ao saber que a chuva vem
Quer banhar-se na biqueira
Não nutre qualquer desdém
Chama toda a vizinhança
É assim que se entretém.

Há uma revolução
No clima do interior
Todo mundo é afetado
Não somente o agricultor
A festa é a mais geral
Do mendigo ao doutor.

A vaca torna a engordar
Fica forte e com mais leite
O porco fuça mais fácil
Toda terra há que aproveite
O mato já bem verdinho
Não há bicho que rejeite.

 

Sabiá, graúna e socó
De longe se ouve o canto
O peba, preá, mocó
Se mostram em adianto
Papa-arroz e o cibite
Muitos seres de encanto.

As grotas logo escorrem
Se enchem açude e poço
As lavadeiras se ocupam
Lavam trouxas em alvoroço
Mas não podem demorar
Senão atrasa o almoço.

Vê-se o trabalhador
Levando foice e enxada
Com sementes na garupa
Pra plantar na invernada
Enfrenta um dia inteiro
De esforço e não diz nada.

Não reclama do trabalho
Antes, grato, ele festeja
Porque no final do inverno
Colhe o fruto da peleja
Trará fartura pra casa
A comida benfazeja.

Vem voltando do açude
O menino e seu anzol
Não pegou sequer piaba
Queimado por tanto sol
Mas não liga e sai correndo
No campo tem futebol.

Pode parecer besteira
Que coisa mais natural!
Chover e molhar a terra
Não é nada tão astral
Diz isso o ignorante
Julgamento parcial.

Ora, nas coisas mais simples
Estão as mais essenciais
Quero ver ficar sem água
Sem comida, nada mais
Sem elas, todos morremos
Das carências mais fatais.

Por isso que é importante
Usar da inteligência
Poupar a água que temos
Usá-la com diligência
Cuide bem pra não faltar
O cuidado é a essência.

O inverno é a maior graça
Que cabe nesse sertão
Um milagre mais sagrado
Não soube que existe, não
É a vida se espalhando
Com os dons da criação.

Somos filhos do inverno
Da terra, do tempo e o pó
A água nos dá a vida
Nosso sangue é um só
Vamos todos festejar
Como canta o curió
.

Benedito Rodrigues

Nenhum comentário:

Postar um comentário