domingo, 19 de janeiro de 2014

REALIDADE DA SECA NORDESTINA

A seca, só quem “viveu” sabe.


Assis Coimbra. ( Engatinhante na arte da vida e do cordel)
Tudo se torna um tormento
Se não chove no sertão,
Secam açudes, riachos
Fazendo rachar o chão.
A lavoura não floresce,
E o nordestino padece
Por falta de água e pão.
*
Sem pedir consentimento
Vem seca avassaladora,
Destruindo vida e sonhos
De gente trabalhadora.
O agricultor fica triste
Mas finca o pé e resiste,
Mesmo perdendo a lavoura.
*
Não tem milho pra galinha
Por falta de chão molhado,
Tudo se torna cinzento
Sem pasto verde pro gado.
E os sertanejos padecem,
E às vezes até falecem
De tanto ser flagelado.
*
A Cauã solta seu canto
Num sol quente de ferver,
Atraindo seca “braba”
Pro sertanejo sofrer.
Mas o povo que tem fé,
Reza para São José,
Pedindo para chover.
*
Parece que é mesmo intriga
Da chuva com meu sertão,
Chove no sul e sudeste
Aqui só ronca o trovão.
A chuva vai pro oeste,
Mas aqui no meu nordeste
Nem água de cerração.
*
A vida toda se altera
Por falta de irrigação,
A semente que é plantada
Torra de baixo do chão.
Todo ser vivo padece
De tanto que o sol aquece,
Secando até cacimbão.
*
Nosso povo é condenado
A viver todo tormento,
Pois quando não chega chuva
A vida é só sofrimento.
E onde tinha igarapé
Agora somente é,
Um terreno lamacento.
*
Sem chuva não viverão
A falta d’água é sentida,
Todo ser vivo enfraquece
Chegando a “perder” vida.
Pois Patativa  contou,
E o Mestre LUA cantou,
O lamento da partida.
*
A “ribaçã” vai se embora
Quando está tudo secando,
E só retorna ao lugar
Se ver o mato brotando.
Assim toda arribação,
Vão pra longe do sertão,
Quando a seca vem chegando..
*
O torrão fica nefasto
Seca toda plantação,
A água sendo minguada
Nem mesmo umedece o chão.
O Teiú vira comida,
Pra muita gente sofrida,
Que já perdeu a “criação”.
*
Mesmo não “caindo” chuva
Vão pra roça todo dia,
“Encoivaram”, tocam fogo
Enquanto o Carcará pia.
Comendo burrego morto,
Moço, me dá desconforto
De ver tanta tirania.
*
Rogo a ti divino mestre
Em mais sincera oração,
Peça a sua santa mãe
Pra ter de nós compaixão.
Livre a gente nordestina
Dessa tão terrível sina,
De viver nessa aflição.
*
Pra sair desse inferno
Tem que ter água no chão,
Para semente brotar
Logo após a plantação.
Assim nossa agricultura
Vai trazer muita fartura,
Pra curar inanição.
*
Os pais abraçam seus filhos
Em meio a tanto clamor
Na eminência de perdê-los,
Para os “braços do Senhor”.
Pois são todos Severino,
Homem mulher e menino,
Sofrendo da mesma dor.
*
Igual o inferno de Dante
Lamento por todo canto,
Crianças choram com fome
Mas só ganham acalanto.
Amigo a fome é tão triste
Que o mais forte não resiste,
Sem deixar cair um pranto.
Assis Coimbra.

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