sexta-feira, 25 de julho de 2014

CAUSOS DE MUNGUENGUE

"Defunto Vivo"

Em alguns arraiais do interior nordestino, quando morria alguém, costumavam buscar o caixão na cidade vizinha, de caminhão.

Certa feita, vinha pela estrada um caminhão com sua lúgubre encomenda, quando um pescador fez sinal, pedindo carona. O motorista parou.

- Se você não se incomodar de ir na carroceria, junto do caixão, pode subir.

O pescador disse que não tinha importância, que estava com pressa de voltar para casa - isto porque tinha vindo pescar sem avisar a esposa. Agradeceu e subiu na carroceria. E a viagem prosseguiu.

Nisto começa a chover. O pescador, não tendo onde se esconder da chuva, vendo o caixão vazio, achou melhor deitar-se dentro dele, fechando a tampa para melhor abrigar-se. Com o balanço da viagem, logo pegou no sono.

Mais na frente, outra pessoa pediu carona. O motorista falou:

- Se você não se importa de viajar com o outro que está lá em cima, pode subir.

O segundo homem subiu no caminhão. Embora achasse desagradável viajar com um defunto num caixão, era melhor que ir a pé para o povoado.

De tempos em tempos, novos caronas subiam na carroceria, sentavam-se respeitosos, em silêncio, em volta do caixão, enquanto seguiam viagem.

Avizinhando-se do arraial, ao passar num buraco fundo da estrada, um tremendo solavanco sacode o caixão e desperta o pescador dorminhoco que se escondera da chuva dentro dele.

Levantando devagarinho a tampa do caixão e pondo a palma da mão para fora, fala em voz alta:

- Será que já parou a chuva?

Foi um corre-corre dos diabos. Não ficou ninguém em cima do caminhão. Dizem que tem gente correndo até hoje.

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