segunda-feira, 29 de junho de 2015

UMA PELEJA DANADA DE BOA

ME LASQUEI COM CHICO CUNHA
O meu fastio foi grande
Confesso perdi a fome
A virose que eu tive
Não me disseram o nome
Só sei que eu me maldizia
A dor no corpo explodia
Dor grande que nunca some.

Não tem remédio que dome
A dor dessa quebradeira
Essa tal de dipirona
Já tomei de mamadeira
Minha amiga eu tenho dito
O ferrão desse mosquito
Vem me dando uma canseira.

Parece uma brincadeira
Mas não tem quem aguente
Evite essa picadura
Para não ficar doente
O ferrão desse mosquito
É de fato esquisito
Pode até matar a gente.

A gente fica impotente
Sem animação pra nada
O mocotó fica inchado
Nossa unha avermelhada
Amiga é grande a sequela
Parece a febre amarela
Maltratando na calada.

Eu fiquei foi acamada
Com um peso na corcunda
A dor se alastrou no corpo
Nunca vi dor mais profunda
Era uma dor infeliz
Subindo pelos quadris
Pegando o rego da bunda.

A cada dia me afunda
Comadre é grande o castigo
Fazer esforço eu não posso
Se sair corro perigo
Já tive doença ruim
Mas o diabo do “chiquim”
Com essa peste eu me intrigo.

Uma coisa digo amigo
Foi bem grande a desgraceira
Deu vômito e febre alta
Me acabei na Caganeira
Foi pior do que supunha,
Se foi mesmo Chico Cunha
Não gostei da brincadeira.

Já vivi muita tranqueira...
Enxaqueca e bucho inchado
Arroto choco e sarampo
Já fiquei empanzinado
Já me lasquei na manguaça
Mas perante essa desgraça
Nada disso é comparado

Minha perna fraquejou
No caminho do banheiro
Bateu-me um suor no rosto
Me atacou um banzeiro
Quando me vi no espelho
Meu olho estava vermelho
Parecendo um maconheiro

Meu poeta companheiro
Debaixo do meu sovaco
Termômetro de plantão
Já fazia até buraco
Pra destapar meu nariz
Tive a ideia infeliz
Que foi de cheirar tabaco.

Eu já fiz chá de jiló
Já fiz despacho em macumba
E já fui orar num culto
Com medo de ir pra tumba
Só falta fazer vodu
E rezar o sobrecu
Pra sair desta quizumba.

Já tomei chá de zabumba
Mas nada de resultado
Chá de limão, alcachofra
Tomei anil estrelado
Se me dirijo pra mesa
Me ataca aquela fraqueza
Com o corpo debilitado

Dessa doença bandida
Nunca mais quero provar
Não desejo pra ninguém
Essa mazela pegar
A mulher é testemunha
Que esse tal de Chico Cunha
Veio pra me arrebentar.

Eu só sei lhe reportar
Que sofri com essa doença
Dos trabalhos que eu fazia
Tive que pedir licença
Foi grande a agonia
Que eu passei a cada dia
Cumprindo essa sentença.

Me vali de toda crença
Pra me livrar dessa inhaca
Sem poder dormir direito
Me levanto de ressaca
Tremendo o queixo de frio
Penso que estou por um fio
Nas mãos dessa urucubaca.

Mas valente eu resisti
Depois da grande perrela
Me sinto revigorado
Mesmo ficando sequela
Pra recuperar os danos
Daqui pra setenta anos
Não desejo essa mazela.
FRAGMENTOS DA PELEJA DE DALINHA CATUNDA E HÉLIO CRISANTO

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