quinta-feira, 23 de julho de 2015

CAUSOS DE MUNGUENGUE

Um camarada chegou num caminhão velho com um circo em cima, em Munguengue.

O caminhão, na verdade, já chegou ao destino na “banguela”, por falta de gasolina.

Arriados os teréns, começam os preparativos pra montagem, alavancas e enxadecos cavando a terra seca, pra fincar os mastros.

Lá ia, de vento em popa, o projeto, quando, vindo do nada, aparece um fiscal da prefeitura.

– É circo?

> É, sim, senhor – responde o dono.

– Pode não... aqui não pode mesmo.

> O quê moço?

– Pode de jeito nenhum circo em Munguengue!

Aí já começa o bate-boca. Pode, não pode….

O dono do circo explode:

> Meu amigo, mesmo que eu quisesse, eu não podia sair daqui, nem gasolina eu tenho mais. Mas, afinal, por que não pode circo aqui?

– Quer saber? Por causa das imoralidades dos palhaços, o povo foi reclamar ao padre, que vem a ser o prefeito, e ele proibiu definitivamente.

> Ah, essa não, você quer saber como é o meu circo? É eu, minha mulher e meus filhos, e o palhaço sou eu e não tem imoralidade, não.

E o fiscal:

– Não diga a mim, não, eu não quero saber não, vá dizer a ele, ao padre.

> E vou mesmo! Onde tá esse padre?

– Tá na igreja, na missa das dez.

O camarada vai, entra de igreja adentro, procurando o padre pra matar ou morrer.

De fato, tá lá o padre gordinho, encarnado, meio velho, careca, sentado no confessionário, com a banda do rosto apoiada na palma da mão, ouvindo os pecados de uma beata.

Isso, com uma fila comprida de fiéis esperando a sua vez.

O dono do circo, sem alternativa, entra na fila e aguarda a vez, que chega, finalmente.

Já de joelhos, vem a ordem:

__ Conte seus pecados filho.

> Não tenho pecado e nem tempo pra contar.

O padre dá um pinote e vai para o camarada, que já está em pé.

__ O quê, rapaz? Você quer o quê? – berra o padre bruto feito toco de broca.

> É um circo, eu vim botar um circo aqui.

E o padre:

__ Você tá doido? Bota de jeito nenhum!

Bota, não bota, estão já às tapas, quando o camarada propõe:

> Deixe eu dizer ao senhor como é o meu circo: é minha mulher, eu e meus filhos. E o palhaço sou eu. Quer ver como eu faço?

E o padre mais calmo:

__ É, já tá aqui, me mostre.

O camarada tira uma touca do bolso do paletó velho, bota na cabeça e um nariz de borracha, planta uma “bananeira” e fica lá, de cabeça pra baixo, com os pés pra cima.

Lá na fila, que não parou de crescer de gente pra se confessar, duas velhinhas lá longe, no fim, não têm a mínima ideia do que está acontecendo.

Vendo aquela arrumação, o cabra de cabeça pra baixo, uma velha se vira pra outra e diz:

** Cumade Quitera, pelo que eu tô vendo, a penitença hoje tá muito pesada e eu não vim privinida, estou sem a ceroulas num sabe, eu vou é simbora.

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