sexta-feira, 15 de julho de 2016

CULTURA UMARIZALENSE

TRADICIONAL FEIRA LIVRE DE UMARIZAL E RESPEITO AOS FEIRANTES
Desde o tempo de meninice, que EU, Jatão, acompanho a feira livre de Umarizal e sua peculiaridades. A feira sempre foi um lugar da diversidade. Nela se vende, se compra, se troca de tudo. Em cima de esteiras no chão, de caixotes, ou expostos em pequenas bancas cobertas de lona, são ali oferecidos os mais diferentes gêneros e produtos.

Na feira acontece também encontros, o ajuntamento de pessoas, a roda de amigos em torno da boa conversa. São pessoas que veem de varias partes da zona rural e urbana.

A feira é também lugar de comunicação. Por ali circulam de boca em boca informações a respeito de quase tudo: a chuva que caiu no sertão; a vaca do amigo que deu boa cria; a comadre fulana que partiu dessa pra melhor; a filha do sicrano que fugiu com um marmanjo há pouco chegado de São Paulo; a mulher que chifrou o marido com o filho do vizinho; a violência na zona rural; o deputado que roubou lá pras bandas da capital; o prefeito ou vereador que não corta nem as terras do agricultor e ainda ganha eleição; o padre que celebrou uma missa no sítio tal; e por ai vai!

Lembrando ainda que a feira é um importante fator de geração de renda, o que já é bastante significativo para Umarizal, haja vista as condições sociais e econômicas da maioria das cidades nordestinas são difíceis.

É necessário, porém, que haja uma sólida política de preservação da feira livre de Umarizal. Há de se fazer um trabalho de conscientização da sociedade acerca do papel da feira enquanto expressão cultural local. Temos que ter por parte dos políticos locais, também essa conscientização a cerca da importância da nossa tradicional feira livre. Isso podemos dizer no tocante ao respeito pelo feirante, dando-lhes melhores condições de trabalho e não só pensar na cobrança do imposto.

Sagrado Coração de Jesus
Peço a vós permissão
Pra falar de nossa feira
Desde o tempo de Gavião
Nome antigo da cidade
Que mudou por necessidade
Hoje tem Umarizal no brasão

Nossa feira é a maior
De toda região
Vem gente de todo canto
Fazer negociação
De bicho, fruta e mangalho
Carne e queijo de coalho
Tem até confecção

Garrote, novilha e touro
Vaca com bezerro no pé
Porco, bode e carneiro
Galinha, peru e guiné
Burro, jumento e cavalo
Pinto, pato e galo
Tem na feira se você quiser

Na feira também tem
Banana, abacate e mamão
Abacaxi, pinha e melancia
Manga, graviola e melão
Pitomba, jaca e caju
Seriguela, cajarana e umbu
Maçã, tamarindo e limão

Tomate, chuchu e cenoura
Cebola, alho e pimentão
Coentro, maxixi e quiabo
Berinjela, pepino e salsão
Jerimum, inhame e mandioca
Repolho e batata com broca
Tem na feira da antiga Gavião

De fazer chá tem de tudo
Capim santo, eva doce e cidreira
Hortelã, chá preto e malva
Muita casca de madeira
Cravo, gengibre e canela
Quebra-pedra e macela
Pra ferver tem a chaleira

Tem também nas bancas
Chibanca, inchada e machado
Foice, faca e facão
Tudo muito afiado
Ainda tem a roçadeira
Inchada de capinadeira
E ferro de ferrar gado

Apragata de sola
Chapéu de couro e gibão
Bolça e chapéu de palha
Lamparina e lampião
Filtro, pote e quartinha
Chiqueiro de criar galinha
De pegar Canario alçapão

Pra vestir o sertanejo
Tem calça de tergal
Camisa de sola sol
Sinto do couro de animal
Anágua que veste a velhinha
Ceroulas de velho branquinha
Isso ainda hoje é normal 

Espora e chicote de couro
Sela bem arriada
Luva de derrubar boi
Bota bem engraxada
De carroça arreação
Pneu de carro de mão
E rede pra ser armada

Tamborete de couro crú
Mesa feita de aroeira
Panela de barro batido
Arupemba, e peneira
Milho pra fazer angu 
Ovo, manteiga e tatu
Você encontra na feira

Queijo de manteiga
Rapadura e farinha
Mel de engenho
Alfenim e batidinha
Banca de vender buchada
Cachaça da tampa enferrujada
E bebo bem de tardezinha

Colchão de porco baé
Tocim bem salgado
Tripa e buxo de boi
Corredor já serrado
Arrasto de criação
Mocotó e chambão
Um bode dependurado

Tripé de alumínio
Ancoreta pra jumento
Galão de botar água
Reparo de catavento
Cachimbo e fumo de rolo
Bolacha, biscoito e bolo
Que dos meninos é alimento

Venda de peixe na feira 
Traíra já escalada
Tilápia, tucunaré e carpa
Curimatã bem ovada
Tem também só o filé
Você compra se quiser
Da tilápia já tratada

Caldeirão todo de ferro 
Balde, bacia e panela
Copo de alumínio
Frigideira e tigela
Feito todo na madeira
Você compra a copeira
E bota perto da janela

Não podemos esquecer
Valdemar dos passarinho
A mala da cobra
Do preto velho Zezinho
Vendendo banha de peixe boi
Que na feira sempre foi
Remédio de meu padrinho

Com um fole de oito baixo
Tem um cego tocador
Banca de jogar bozó
Meia dúzia de trocador
Uma cigana lendo a mão
Do caboclo do sertão
Pra falar de desamor

Vendendo jumenta preta
Broa, bolo e café
Tem as cafezeiras
Que de madrugada ta de pé
Com sua banca na feira
Bota fogo na chaleira
E depressa côa o café

Falo agora meu compadre
Da famosa garrafada
Feita do cupinzeiro
É grande a misturada 
Cura febre e resfriado
Disenteria e buxo inchado
De toda meninada

Na igreja matriz
Tem missa do feirante
Padre João Batista
É nosso celebrante
Verdureiro, e pescador
Sulanqueiro e agricultor
Da celebração é participante

Ainda tem muito mais
Na feira de Umarizal
Mais vou parar por aqui
Esse meu festival
Pois pra mim aqui falar
O que na feira há
Vou ficar débil mental
E Deus me livre cidadão
Pois aqui o grande Jatão
Quer ainda ser normal

                    Texto: Jatão Vaqueiro

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